Sem voz, sem voto: o risco do silêncio político em Nova Mamoré
- Redação
- 6 de jun.
- 4 min de leitura
Ausência de estratégia de comunicação transforma mandatos em fantasmas; enquanto isso, vereadores vizinhos constroem imagem, narrativas e votos

Em tempos de redes sociais, onde a política acontece tanto na rua quanto no feed, um mandato sem comunicação é um mandato silencioso e, muitas vezes, esquecido. Em Nova Mamoré, esse silêncio tem custo: a maioria dos vereadores atua nos bastidores, mas pouco (ou nada) comunica à população sobre o que faz, vota ou propõe.
Alguns vereadores até tentam usar as redes sociais, mas sem estratégia: publicam fotos e falas genéricas que só alcançam amigos e familiares que já os seguem. A maior parte da população segue sem saber o que fazem. Na política, não basta postar, é preciso se comunicar com quem ainda não está ouvindo.
A Câmara de Nova Mamoré tornou-se, aos olhos da população, quase invisível. Os parlamentares, em sua maioria, são mais lembrados pelas fofocas que os cercam do que por qualquer projeto concreto que tenham apresentado. A ausência de comunicação transformou seus mandatos em territórios obscuros, onde até ações positivas passam despercebidas. É como se os vereadores atuassem em uma bolha institucional, onde discursos são feitos para os próprios colegas, indicações são encaminhadas sem eco, e o eleitorado só toma conhecimento da existência de um vereador quando surge uma polêmica ou crítica viralizada nos grupos de WhatsApp.
O que acontecerá? Na eleição, o preço do silêncio no mandato será alto: o esforço e os recursos para tentar a reeleição precisarão ser muito maiores para compensar a ausência durante o mandato.
O marketing que falta e a narrativa que se perde
Comunicação política é mais do que panfleto, selfie e áudios em grupos de whatsapp. É construção de confiança, transparência e reputação. Quando o cidadão não sabe o que o vereador faz, o espaço é ocupado por desconfiança, fofoca ou memes corrosivos.
Basta circular por bairros e comunidades de Nova Mamoré: poucos sabem o nome de todos os vereadores. Menos ainda conseguem apontar projetos, fiscalizações ou indicações relevantes. Pior: há quem acredite que alguns parlamentares sequer “aparecem na Câmara”. A falta de comunicação institucional e pessoal criou um vácuo narrativo. O resultado? no vácuo, os rumores dominam.
Do mesmo rio, mas com outros nomes
Enquanto isso, Guajará-Mirim mostra como a comunicação bem feita pode ser aliada do mandato. Alguns vereadores, mesmo de primeiro mandato, já contam com páginas organizadas nas redes sociais, presença em rádios locais e até pequenas assessorias de mídia, tudo dentro da legalidade e com forte resultado na imagem pública.
Já em Porto Velho, nomes como Marcos Combate, Dr. Santana e Márcio Pacele vêm construindo mandatos conectados com as bases, aliando comunicação digital com ações de rua. Eles publicam prestações de contas, vídeos explicativos, bastidores de votações e fazem o mais importante de tudo, aparecem quando o povo precisa reclamar e dão explicações que são divulgadas em vários meios de comunicação próprio e de terceiros.
O que está acontecendo com eles? Estão em evidência e já figuram em pesquisas eleitorais para ocupar lugar na Assembleia Legislativa de Rondônia na próxima eleição.
Quando a ausência se transforma em rejeição
Nova Mamoré já tem casos concretos de vereadores que começaram bem, mas se afundaram no esquecimento ou na má reputação. A falta de comunicação foi o estopim: enquanto apareciam em sessões e indicavam melhorias, ninguém ficava sabendo. Já as críticas, essas correm como as águas do Madeira em seu berço.
O cenário é tão evidente que até nomes de peso, com alto poder aquisitivo e influência local, já passaram pela Câmara e, mesmo tendo estrutura para manter mandatos longos, simplesmente não tentam mais.
O motivo? O medo de não se reeleger e a vergonha do julgamento público, justamente por não terem suas ações reconhecidas durante o mandato. Sem comunicação, até quem tem dinheiro, sobrenome forte e presença social acaba sumindo da memória do eleitor e da política. Alguns ex-vereadores chegam a justificar sua desistência dizendo que “precisam focar mais nos negócios” ou “dar mais atenção à família”. Soa bonito, quase nobre. Mas quem acompanha de perto sabe: a verdadeira razão é o receio de encarar as urnas após um mandato sem voz, sem marca e sem lembrança. Porque, no fim das contas, o que não é mostrado, simplesmente não existe.
O reflexo nas próximas eleições
Com a aproximação das eleições de 2026, para deputados, e de 2028, para prefeito e vereadores, o impacto da comunicação — ou da ausência dela — será decisivo. Parlamentares sem base de engajamento real, tanto nas redes quanto nas comunidades, dificilmente conseguirão migrar para voos maiores, como disputas proporcionais.
Os pré-candidatos à prefeitura de Nova Mamoré, por sua vez, já observam o desempenho digital e o alcance popular dos vereadores atuais como critério para composição de alianças ou como justificativa para descartá-las.
Nos bastidores, a movimentação já começou, inclusive dentro da própria Câmara, onde há uma disputa velada pelo comando do segundo biênio da presidência, com parlamentares tentando se posicionar como nomes viáveis para o jogo sucessório. Além da visibilidade, pesa também a capacidade técnica para administrar, já que o atual prefeito é doutor em Ciências Sociais e elevou o nível da exigência pública sobre preparo, planejamento e gestão.
Em uma eleição que se aproxima cada vez mais da análise de currículo, carisma e competência, quem quiser disputar de verdade precisará apresentar mais do que vontade, precisará convencer que sabe governar e saber divulgar isso.
O futuro? Ninguém sabe ao certo. Mas já é possível identificar alguns que, hoje, plantam visibilidade e presença para colher os frutos políticos de amanhã.
Comentários